CRITÉRIOS DA SELEÇÃO

Artigo publicado na edição nº 20 de fevereiro de 2012 da REVISTA SIMMENTAL, da Colômbia.
 






Tradução:

O Brasil é um país de grandes extensões, possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com aproximadamente 200 milhões de cabeças, onde 50 milhões são exploradas para leite e 150 milhões para a produção de carne. A imensa maioria destes animais carniceiros é zebuína, sobretudo da raça Nelore. Raça que por suas características de adaptação e fertilidade dominou nossos pastos tropicais e subtropicais.

Por este rápido painel fica fácil perceber que as raças zebuínas são e serão as grandes responsáveis pela produção de carne vermelha em nossas condições ambientais. Apesar de suas virtudes, elas podem se tornar mais eficientes através do chamado cruzamento industrial, que é a utilização de touros (ou sêmen) das raças taurinas sobre as matrizes zebuínas. Prática esta que além de reduzir o ciclo do nascimento ao abate em 20%, traz ganhos na produção de leite, fertilidade e outras características produtivas, gerando muito mais retorno ao pecuarista.

Muitas raças podem ser usadas no cruzamento sobre vacas zebuínas, com bons resultados, porém durante anos acompanhando diversos modelos de cruzamento industrial temos a convicção de que a raça que melhores resultados apresenta é o Simental. Não é à toa que ela é uma das três raças mais criadas em todo o mundo.

No Brasil, as primeiras importações da raça Simental foram feitas em 1904, concentradas nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Muito deste material genético se dispersou, mas alguns criadores fizeram cruzamento absorvente sobre rebanhos aqui já existentes, sobretudo da raça Guzerá, desenvolvendo uma linhagem de animais bastante adaptada às condições de brachiaria, calor e carrapato. Em 1963, chefiados por um destes criadores, o Sr. Agostinho Caiado Fraga, foi criada a Associação Brasileira de Criadores da Raça Simental.

Minha história com a raça Simental começa em 1987, quando ainda estudante de zootecnia, visitando a feira agropecuária de Londrina, tomei contato pela primeira vez com animais da raça. Encantei-me com os animais e quanto mais eu aprendia, mais ficava claro que esta era a raça ideal para compor com as raças zebuínas em nossas condições. 

Formei-me em 1991 e fui para o Canadá onde fiquei por três meses fazendo estágio nas principais fazendas de Simental daquele país (Bar5, Lewis Farms, entre outras). Voltei encantado com aqueles animais que a campo, pareciam muito saudáveis, e tinham um altíssimo ganho de peso apesar de comer apenas alguns “matinhos”.

Ao retornar fundei uma empresa de comercialização de sêmen a Taurus Genética especializada em Simental e Simbrah, buscando genética de todo o mundo para melhor atender nossos clientes. Nossa empresa tem 20 anos no mercado e continua com uma grande variedade de opções de touros de várias origens Alemanha, África do sul, França, Áustria entre outras.

Nos anos 90, criadores brasileiros importaram milhares de animais, embriões e doses de sêmen dos principais rebanhos do mundo, havendo um grande aumento no número de animais e criadores.

Neste período, fomos convidados a fazer parte do conselho técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Simental e Simbrasil, conhecemos quase todas as propriedades de criadores brasileiros, além de ter a oportunidade de visitar rebanhos de Simental em mais de 20 países.

Infelizmente e a um alto custo, percebemos que muitos daqueles animais que eram excelentes em seus países de origem, não tinham o mesmo resultado nas condições brasileiras. Percebemos que a neve pode ser uma excelente maneira de acabar com carrapatos e endo parasitos, e que aquele “matinho”(alfafa e azevem) do Canadá pode ter um teor de proteína altíssimo. E aqui no Brasil não temos nenhum dos dois. 


Existe um fenômeno em zootecnia chamado interação genótipo/ambiente, isso quer dizer, que a seleção deve ser feita respeitando o ambiente onde este animal será criado. Ou seja, uma seleção feita em condições climáticas e de manejo muito distintas tem muito pouca validade para nossa realidade.

Em 2005 iniciamos nossa própria criação comprando cerca de 100 animais Simental puros, apenas nos criatórios que já selecionavam animais adaptados, pois percebemos que nas nossas condições a grande preocupação do selecionador deve ser com a adaptação.

Nosso objetivo no rebanho SIMENTAL DO MAMADO é produzir touros que, em um ambiente tropical/subtropical cobrindo a campo, sirvam por muitos anos e produzam excelentes filhos.

Nesse sentido nossos critérios de seleção são muito claros e definidos, a saber, e por ordem de importância:

1 - ADAPTAÇÃO:

a)Para nossa condição de calor é fundamental animais de pêlo curto, o que  ajuda no conforto térmico e também facilita o combate ao carrapato, pois nestes animais a aplicação de anticarrapaticidas por pulverização é muito mais eficiente.

b) Há mais de seis anos, periodicamente, damos notas de infestação por carrapato a todos os animais de nosso plantel. Este processo nos mostrou famílias mais suscetíveis, que vêm sendo descartadas e famílias mais resistentes que vêm sendo multiplicadas.

c) Observação diária da freqüência respiratória dos animais, descartando aqueles que se mostram ofegantes e que buscam a sombra com freqüência.

2 - FERTILIDADE:

a) Em condições normais de pasto, com pouca suplementação, selecionamos animais que precisem de poucos serviços para emprenhar.

b) Pequenos intervalos entre partos, conciliados com bezerros com bom peso a desmama.

c) Vacas que dêem a luz em partos normais, sem assistência ou problemas de distocia ou gêmeos.

 3 - HABILIDADE MATERNA:

a) Fêmeas com boa produção leiteira, sem ser excessiva.

b) Mães que cuidem de seus bezerros e sejam amorosas sem ser agressivas com os tratadores.

c) Bezerros com peso ao nascer na média da raça e de temperamento vivo já ao nascimento.   

 4 - GANHO DE PESO:

 Animais com alto ganho de peso.

 Participamos do programa de melhoramento da raça da Associação Brasileira de Criadores,no qual os DEPs de nossos animais são aproximadamente cinco vezes maiores que a média dos criadores brasileiros.      

Na última prova oficial realizada por um órgão oficial do governo brasileiro, onde competiram 22 animais da raça simental, de sete criadores diferentes, nossos animais fizeram 1º e 2º lugares.


Outras questões a serem consideradas : 

Cor: Não selecionamos nenhuma cor específica. Não nos importa se o animal é amarelo claro (quase branco) ou vermelho escuro. Apenas evitamos animais com muitas malhas onde o pelo é branco e a pele é branca, para evitar problemas com a incidência solar.

Frame: Entendemos que existem vários mercados, por isso não podemos ter animais de apenas um biotipo. Portanto temos em nosso rebanho vacas de frame grande, médio e pequeno.

Pigmentação ocular: Durante mais de 10 anos de observações a campo em muitos rebanhos, fizemos um trabalho catalogando as famílias com incidência de problemas oculares. Obviamente, procuramos produzir animais com pigmentação ocular, mas hoje temos a convicção que este problema é herdado e aparece com maior incidência em determinadas famílias. Famílias essas que a evitamos usar em nossos acasalamentos.

Na verdade, apesar de termos as quatro principais características muito definidas em nosso processo de seleção, para cada característica fenotípica do animal temos objetivos claros: animais harmônicos, bons aprumos, características sexuais secundárias, etc.

O processo de seleção é dinâmico e infinito, porém é importante perceber que as quatro principais características podem ser apenas estimadas através do fenótipo, mas não efetivamente avaliadas. Por isso, é fundamental a realização de provas nas nossas condições.

Portanto, entendemos que toda seleção deve ser feita em ambiente igual ou pelo menos muito semelhante onde o animal se desenvolverá. E deve obedecer prioritariamente a seguinte ordem: RUSTICIDADE, FERTILIDADE, HABILIDADE MATERNA E VELOCIDADE DE GANHO DE PESO.

O animal tem que estar adaptado ao ambiente onde vai viver, assim ele poderá se reproduzir com eficiência, deve cuidar e desmamar bem  seus filhos que devem ter alto ganho de peso para rapidamente produzir a proteína vermelha que o mundo tanto precisa.

Com esta filosofia, fundamos em 2011 o grupo de criadores de SIMENTAL BRASILEIRO, que congrega criadores que têm como principal objetivo produzir  animais adaptados à realidade de campo de países tropicais/subtropicais.

Entendo que Brasil e Colômbia têm características muito parecidas e espero que em um futuro próximo possamos colaborar mais mutuamente para a importante missão de suprir o mundo com a fonte mais completa de proteína, que é a carne vermelha. 

 



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